Promessa. É a palavra oportuna para levantar a frequente questão sobre a capacidade humana. De fato tal capacidade é incrível, mas fatalmente dominada. A ciência culpará os hormônios que causam a preguiça, o cansaço e o estresse; a maldita religião deve continuar com sua pregação sonífera e padronizada: cantando "eu vou viver uma virada em minha vida, eu creio!", quando logo em fevereiro estarão entrando em campanhas para cessar o acumulado sofrimento; dogmáticos idiotas irão apedrejar a lei de Murphy, como sempre. E assim haverá sempre um culpado para o fracasso humano, com exceção - é claro - da própria humanidade.
Não há nada de errado em ter boas expectativas para um bom recomeço de ano. Afinal, logo no primeiro dia comemoramos a confraternização universal, um dia de paz - ou de menor guerra. Mas e depois?
Você continuará fazendo algo diferente, ou irá mesmo adimitir que sua rotina insuportável não lhe deixa mais fazer nada? Em poucas viradas de ano comemoradas, percebi a instantânea felicidade que chega e logo se dissolve. Os dias separados para festejar um novo início são lançados no abismo do esquecimento; promessas serão quebradas e a trégua será desfeita; ainda que não seja igual, será muito semelhante.
Não cabe a você mudar o mundo, e nem a mim. Ele sofreria mudanças somente se toda a humanidade seguisse uma mesma linha de pensamentos, hábitos e atitudes; logo posso firmemente deduzir que nunca iremos mudá-lo. O mundo sempre foi o mesmo, e nós, passageiros, apenas seguimos uma alinhada forma de nos adaptarmos a ele. Nós somos os estranhos, e não o nosso mundo.
Contudo, comemore. Ainda que suas promessas para enriquecer, emagrecer ou arrumar casamento continuem fracassando, não perca a chance de encher sua taça com um bom champanhe e brindar a vida. Há uma estranha e ainda simples conclusão para tudo isso: é simplesmente o que merecemos por não conseguirmos cumprir com nossa fútil palavra. Certamente toda regra possui sua devida exceção, e entrementes algumas raras personalidades conseguem obter o prometido e tão desejado. Porquanto sofremos mais um ano de rotina, cansaço e dor de cabeça, ao menos tiramos dois dias para rirmos das desgraças, perdoarmos as ofensas, e obtermos energia para errarmos tudo de novo... e outra vez.
"Fazer diferença não é uma questão coletiva."
Sérgio Bitencourt
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