sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Aos Fins...

 ... veremos fogos brancos e coloridos nos céus e teremos olhos cheios de emoção por breves segundos. Sim, estes serão breves pois devemos abraçar cada indivíduo presente na festa. Nossa boca gritará vivas de alegria enquanto soluça pedidos de desculpa por ter magoado a mãe o ano inteiro. Todos os nossos ressentimentos serão reciclados e jogaremos promessas ao vento. É um ritual, assim como o bom e velho champanhe; e só aqueles que reconhecem as verdadeiras contradições inventadas pela sociedade conseguem - ainda dificilmente - escapar.
 Promessa. É a palavra oportuna para levantar a frequente questão sobre a capacidade humana. De fato tal capacidade é incrível, mas fatalmente dominada. A ciência culpará os hormônios que causam a preguiça, o cansaço e o estresse; a maldita religião deve continuar com sua pregação sonífera e padronizada: cantando "eu vou viver uma virada em minha vida, eu creio!", quando logo em fevereiro estarão entrando em campanhas para cessar o acumulado sofrimento; dogmáticos idiotas irão apedrejar a lei de Murphy, como sempre. E assim haverá sempre um culpado para o fracasso humano, com exceção - é claro - da própria humanidade.
 Não há nada de errado em ter boas expectativas para um bom recomeço de ano. Afinal, logo no primeiro dia comemoramos a confraternização universal, um dia de paz - ou de menor guerra. Mas e depois?
Você continuará fazendo algo diferente, ou irá mesmo adimitir que sua rotina insuportável não lhe deixa mais fazer nada? Em poucas viradas de ano comemoradas, percebi a instantânea felicidade que chega e logo se dissolve. Os dias separados para festejar um novo início são lançados no abismo do esquecimento; promessas serão quebradas e a trégua será desfeita; ainda que não seja igual, será muito semelhante.
 Não cabe a você mudar o mundo, e nem a mim. Ele sofreria mudanças somente se toda a humanidade seguisse uma mesma linha de pensamentos, hábitos e atitudes; logo posso firmemente deduzir que nunca iremos mudá-lo. O mundo sempre foi o mesmo, e nós, passageiros, apenas seguimos uma alinhada forma de nos adaptarmos a ele. Nós somos os estranhos, e não o nosso mundo.
 Contudo, comemore. Ainda que suas promessas para enriquecer, emagrecer ou arrumar casamento continuem fracassando, não perca a chance de encher sua taça com um bom champanhe e brindar a vida. Há uma estranha e ainda simples conclusão para tudo isso: é simplesmente o que merecemos por não conseguirmos cumprir com nossa fútil palavra. Certamente toda regra possui sua devida exceção, e entrementes algumas raras personalidades conseguem obter o prometido e tão desejado. Porquanto sofremos mais um ano de rotina, cansaço e dor de cabeça, ao menos tiramos dois dias para rirmos das desgraças, perdoarmos as ofensas, e obtermos energia para errarmos tudo de novo... e outra vez.


"Fazer diferença não é uma questão coletiva."
Sérgio Bitencourt

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