domingo, 30 de junho de 2013

Do Amor, o Indubitável


 Até ontem você ainda estava aqui, ao meu lado. Teríamos um sushi para hoje, uma sessão de cinema para a próxima semana. Muito a ser feito ou apenas nada, o que isso importa? Eu encontraria você, carregada de um mesmo semblante, aquele que sempre muda ao me ver, tornando-se o belo sorriso que você nunca conseguiu evitar.
 Foi preciso beber um pouco na noite passada; não para pensar em você, mas para ter as palavras certas que uma carta como esta costuma exigir. Duas garotas me fizeram lembrar dos caminhos que cruzamos, desejos que realizamos e de como viemos parar aqui.


 Quando sua cabeça começa a girar sem rumo, a única vontade consciente é a de estar com quem se gosta, num lugar aconchegante, longe de tudo e diante do silêncio, para assim alcançar seu ouvido e sussurrar um amor digno de toda a vida, esta que sua ausência tornou pequena e insignificante demais.
 Estive ouvindo, durante toda a madrugada, aquela última música que dediquei a você. Não fui eu que a compus ou gravei, é claro. Você sabe que sou um mero apreciador que não leva vocação para o artistico e que, ainda que eu soubesse do seu gosto por músicos, nunca me dediquei a ser um - o que nunca impediu que gostasse de mim. Muitas foram as canções que ficaram entre a gente. Nunca tivemos uma música para chamar de nossa, mas no início era você minha Ashley, meu sonho na tempestade, meu novo propósito. Apesar de todo o peso daquelas letras, eu adorei ser seu personal Jesus; nosso tainted love jamais será esquecido. Sei que se lembrará de mim pelo soar de certos tons e, hoje principalmente, toda vez que reconhecer que, não importa como me chame, eu seguirei meu caminho te amando da mesma forma.
 Éramos um casal bonito, foi o que ouvi de algumas pessoas. Outros conhecidos não chegaram a testemunhar nossa união, mas sabiam por alguma razão que nos dávamos bem e que combinávamos um com o outro. No entanto, eles ainda são espectadores e por isso não podem saber o quanto foi realmente especial pra gente estar junto. Fácil seria, para qualquer um deles, dizer que podemos nos abandonar e viver, simplesmente. Eles são os donos da teoria, mas fomos nós os detentores da prática lado a lado. Onde quer que estejamos, não importa o quanto eu ou você sejamos encantadores para alguém; eu conheço seus demônios, você os meus e, como ninguém, sabemos lidar com nossa fúria peculiar.
 Hoje não consigo mais chorar - bem, disso você já sabe. O aperto no peito e o nó na garganta insistem, mas não existem mais lágrimas. Queria eu desabar bem na sua frente, só para saber se você juntaria minhas peças e me faria completo de novo, ou apenas me deixaria em pedaços para que eu me recompusesse sozinho e aos poucos. Algumas vezes, cheguei a dizer que me humilhei por você, mas meu derradeiro castigo foi prostrar-me diante do orgulho e deixar que ele me impedisse de seguir adiante.
 Sabe, você nunca irá se tornar um daqueles meus contos. Todos eles proveram de inspirações menores e o tempo que vivi ao seu lado fora grande demais para se limitar a um breve texto. Como antes eu havia lhe dito, minhas estórias possuem início, meio e fim, mas contigo eu nunca soube onde ou quando parar. Talvez você não precise dessas palavras, mas elas precisam sair de mim para que me haja paz.
 Este não é um adeus, de fato. Não é um até logo, pois nossas feridas e suas circunstâncias não permitem que estejamos próximos demais pela manhã. Este é apenas um canto de fúria e esperança que talvez em mim nunca morra, pois não vejo como conceber este fim. Eu nunca consegui duvidar que daria certo.

sábado, 1 de junho de 2013

Canseira

 Cansaço. Sinônimo de fadiga. Palavra simples e objetiva. Nossa mais comum desculpa e mais frequente consequência. Da integridade do corpo aos pormenores da alma, estamos todos exaustos.
 Num dado momento nos escondemos, mantemos o silêncio de nossa inquietude, mas alimentamos o cansaço da repressão. Num outro estamos vulneráveis e explícitos, procurando desesperadamente pelo buraco mais próximo onde possamos nos refugiar. Nossos questionamentos são saudáveis, porém cansativos, mas pior seria não questionar e morrer sem descobrir como é excitante ter alguns inimigos.
  Das ilusões sobre o tempo, a pior delas é pensar que ele passa ora ligeiro, ora vagaroso. Sua única verdade é ser constante e não estar à nossa espera. Ele nos ensina que até mesmo as oportunidades se cansam e não mais aparecem, pois sabem como somos inflexíveis. Assim a família se cansa, os amigos desistem, o trabalho nos deixa exaustos e toda forma de relacionamento acaba por nos sufocar.

 Se não fossemos tão tolos e desconfiados, sofreríamos menos e aprenderíamos mais a cada curva. A pessoa legal, que convidava sua paquera para sair todo fim de semana, irá se cansar da espera, das recusas e das desculpas. Aquela outra, da qual se espera uma ligação, desistirá de aguardar ao telefone, e a recíproca será verdadeira.
 Enquanto reclamamos do cansaço de estarmos à toa, muitos prezam pelo descanso que aqui desperdiçamos. Aquele velho ranzinza e intolerante há de se cansar de sua estupidez, assim como os jovens de hoje se cansam de brincar e decidem levar à sério - complicar e destituir - a simplicidade que é a vida. Todos os acertos e erros lançados em função do arrependimento. O outro lado das escolhas fora há muito engolido pelo tempo e jamais será revelado.

 Certo dia nos cansamos de sermos imaturos, noutro recusamos toda a seriedade. Se olharmos em volta, perceberemos sem dificuldades que o mundo se cansou da gente, e hoje nos expulsa daqui. Cansados de esperar pela felicidade, eis que estamos acomodados demais para corrermos até ela.