segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Entrelinhas

 Certo dia sonhei que subia no banco de uma praça e gritava todos os meus segredos em público. Quanto mais eu gritava, menor eu ficava e mais baixa saia a minha voz, como se o dito som as fizessem crescer. As pessoas tomaram proporções gigantescas; logo me senti perdido - meio engolido pelas minhas próprias confissões e pelas coisas banais que disse, mas que o mundo ficaria bem melhor não sabendo.


 Então quem sou eu? E quem é você?
 Está além dos seus sonhos, além do que a sua mente é capaz compreender. Poderia você controlar o imenso pandemônio dos seus segredos, ou nega que todos nós tenhamos três vidas em potencial? Descuide-se de sua vida pública e sua vida privada será levada aos extremos de onde nunca deveria ter chegado. A versão contrária dessa teoria vai transformar sua vida pública numa grande vergonha, ou você apenas saíra do anônimato, o que não seria muito discreto mas o que muitos desejam. Entretanto, sua vida secreta continuará sendo o cômodo o qual apenas você tem a chave; e nunca a perde. Resistente a tudo, você pode mudá-lo e reformá-lo infinitas vezes, direcioná-lo para o bem ou para o mau; garantindo que ele jamais poderá te enganar, pois é seu - talvez a única coisa que possa ser chamada de sua.


 O mundo é o seu mundo afetando o meu mundo, e vice-versa - este é o nosso mundo. Ele não espera, não cessa e não volta para pegar o que ficou lá atrás. Alguns o chamariam de cruel; eu o chamo de justo. Que diferença você faria se a vida de outra pessoa não fosse atingida pelas suas escolhas? Querendo ou não, mantemos contato indireto e influênciamos tudo à nossa volta, por isso nunca estamos sozinhos.
 O que há por trás dos seus trajes, sejam eles pretos ou coloridos? Qual é o sentido das suas formas, da textura do seu rosto, do seu olhar? O que eles guardam? Conte-me a moral de todos os livros que leu, filmes que viu e coisas que fez. Suas marcas, onde estão? Suas lágrimas, para que servem? Pode se dizer integro e verdadeiro e cosegue me provar isso? Será que já descobriu o meu disfarce? Já reparou bem na pessoas que diz que ama? Quantas milhas a mais você precisa correr para saber o que realmente importa? Já foi pego falando sozinho? Então... com quem conversava? Existe alguém dentro de você que gosta de se comunicar? Estou curioso para saber qual é a fantasia que esconde a sua índole, e a verdade em você.
 Perceba que todas as perguntas que escrevi - em aproximadamente três minutos - possuem respostas que não saberiamos dar, ou que apenas não nos sentiriamos à vontade em responder, pois não precisamos. Pensei em escrever algo desse gênero quando finalmente percebi que não podemos corresponder a tudo que queremos ou ao que exigem de nós. Nossos esforços são pouco úteis e quase vãos diante de máquinas que não param - voltaremos então à questão do mundo. O que não fazemos por nós mesmos será feito por outro e para si próprio. Não estou pregando ideais egoístas, apenas um fútil contrasenso.
 Somos um verbo único que jamais poderemos conjulgar.

“Não existem segredos na vida, apenas verdades escondidas, que ficam sob a superfície.”
Dexter Morgan

Um comentário: