segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

De Barriga Cheia

 18 de dezembro - o dia estava tão maldito que nem minha própria casa onseguia me fazer bem.
 A encheção de saco e as insuportáveis expeculações me expulsaram de lá. Tudo junto, se misturando com a minha ansiedade em postar o burrice 3 e ainda ter que visitar o bairro vizinho e ver rostinhos indesejáveis era demais. Uma desagradável sensação é a mistura da raiva com o desespero e a ansiedade. Alguém quer porque quer brigar comigo mas nem pra isso eu serviria.
 Saí de casa com um frio na barriga - pensando na morte, como faço às vezes. Segui subindo até o ponto de ônibus para o dito bairro vizinho e pelo caminho observei as luzes de natal, gostaria que meu humor estivesse tão belo quanto os enfeites.

 A espera pelo ônibus não foi muito longa, mas pude perceber no ponto um pai de família frustrado - e sim, eu fazia alguma idéia do motivo. Sua mulher tinha o cabelo longo e muito mal tratado, preso com uma buxinha de cinquenta centavos; usava uma saia cigana até os pés, com unhas que aparentemente nunca foram feitas, além de calçar uma rasteirinha - que particularmente odeio; completanto o figurino, uma blusinha Heloisa Helena. Se não pelo amor verdadeiro, nada seria capaz de fazer o pobre homem gostar de uma mulher que não se cuida. O pior de tudo é ouvi-la pedindo dinheiro para comprar chocolate para o muleque pirracento e para a pré-adolescente que seguia exatamente o figurino da mãe. Não pude deixar de reparar a bíblia debaixo do braço daquele homem, e deixo minha dica: se você é crente e tá doido pra transar, não caia na bobeira de se casar com o(a) primeiro(a) que aparecer, você não será plenamente feliz e irá desgraçar sua vida somente para dar uma trepada toda noite. Segure a onda pois não vale a pena.
 Me senti um carrasco quando me peguei rindo da família desestruturada e da cara do pai de "por#@, aonde eu fui amarrar meu jegue...". Contemplar aquilo me fez ver como minha vida era boa, pelo menos eu não tenho uma mulher descuidada e nem pentelhos pirracentos; modestia à parte, minha atual namorada se cuida muito bem e anda sempre cheirosinha perto de mim. Falo dela em outro trapo.
 Segui lendo Harry Potter dentro do ônibus, a leitura normalmente me tira de órbita e me faz esquecer do mundo ao redor, mas não do meu celular vibrando no meu bolso. Desci no ponto mais próximo pois acabara de ser presenteado com uma carona. Esperando por ela - a carona - testemunhei novos casos de vidas piores que a minha. Uma solteirona gorda e escandalosa se dizia alto-suficiente e jurava para suas amigas que não precisava de homem algum, até porque os homens não devem precisar muito dela. Dentre outros casos, meninas certas com os caras errados, jovens rebeldes e viciados espalhados por todo o lado, o ápice da mediocridade se concentrava no ponto do shopping naquela noite de véspera de natal - quem sabe onde moro conhece o tal shopping. Caramba, como minha vida é boa - quero voltar pra casa!
 Com a chegada da carona, fui e voltei num pulo até o bairro vizinho. Nada me pareceu melhor do que eliminar qualquer vínculo com aquele lugar, que já me fizera tão mal. Mas danem-se agora! Apenas desejo aos meus verdadeiros amigos que sejam fortes e sobrevivam - eles sabem quem são e ao que me refiro.
 Na volta pra casa, minha cabeça havia virado. Tudo que vi naquela noite passara na minha mente como um raio de luz divino, me mostrando como eu tenho uma vidinha razoável. Como de praxe, terminamos a noite em pizza, e estive bastante feliz pela reviravolta; as vezes eu reclamo de barriga cheia.

Um comentário:

  1. Sérgio, acho que faz parte da nossa condição de seres humanos reclamarmos e nos sentirmos insatisfeitos com o que temos, por mais que seja. Depois de conviver com pessoas que tinham muito, muito mais do que eu e reclamarem nessa mesma proporção, aprendi a dar valor no que tenho.

    É claro que de vez em quando pinta uma frustração, sempre tem alguma coisinha que você deseja com muita intensidade e que simplesmente não pode ter. Mas eu posso dizer com segurança que me sinto mais satisfeita do que insatisfeita pelo menos em 80% do tempo. Se não mais.

    Situações como essa que você passou sempre colaboram para a gente enxergar com mais carinho o que está ao nosso alcance, né?

    Obs. eu adoro rasteirinhas, mas um pezinho limpo, unhas bem feitas e o próprio calçado mais bonitinho são elementos importantes =]

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