quarta-feira, 20 de julho de 2011

Ensino Médio - 2º Ano (Parte II)

 Há muito tempo venho alimentando a vontade de escrever sobre essa suposta segunda parte, mas vinha, desde então, esperando a hora certa. É estranho falar sobre hora certa quando se trata de uma simples postagem, mas essa aqui - em especial - merece uma parte mais generosa da minha dedicação.

 Foram tempos difíceis. Ergui minha cabeça e encarei por um momento - ainda que chorando - tudo o que havia conquistado. De longe, não eram apenas boas notas e bons amigos; brevemente, não era apenas uma vaga num curso qualquer de aprendizagem; e com certeza, ela não era só mais uma pra mim. Esperei por muito tempo pela chance de crescer e tentar conquistar as bases estáveis que qualquer um desejaria conquistar, estive tão perto que pude sentir quando tudo desmoronou. Era a hora de ir embora.
 Mudar de cidade é algo tão comum nos dias de hoje, que acredito plenamente que tal experiência seja saudável, exceto, quando se está fugindo da morte. Tal fuga fora tão desesperadora que não foi preciso mais de uma semana para que eu já estivesse bem ali: em frente ao meu novo apartamento, numa cidade completamente desconhecida, enfrentando um estranho e inevitável recomeço.

 Me lembro bem dos detalhes, do sol iluminando cada cômodo ao longo da tarde e do maravilhoso crepúsculo que irrompia os céus antes do cair da noite. Meus dias eram tão solitários quanto meus pensamentos. Ouvia sempre o mesmo CD com as mesmas músicas e a falta da internet me deixava ainda pior. A saudades dos velhos amigos apertava e não sabia o que fazer quando tudo já havia sido feito. Não haviam mais jogos que preenchessem meu tempo, nem músicas que me despertassem emoções, e minhas idéias já não fluiam tão livremente como de costume. Meu cérebro estava prestes a se atrofiar, mas boas notícias sempre sabem a hora de bater à porta. Minhas tediosas férias estavam perto do fim e, mesmo em outra cidade, eu teria que levar adiante meus estudos.

 Não foi difícil escolher, mas a vaga foi dura de conquistar. Uma magnífica e bem estruturada escola erguia-se sob o comando de uma diretora montada em conceitos muito radicais. Entretanto, era ali que eu passaria o resto do ano, e possívelmente o próximo, não sabia quanto tempo eu teria de ficar. Rapidamente tudo que era preciso para recomeçar já estava à postos, mas a sensação de sair de casa para o 1º dia numa outra escola me fez pensar em como tudo aquilo aconteceu, em como fui parar ali, e em tudo que eu havia planejado antes disso. Mais uma vez a tristeza me fez companhia, mas não valia a pena chorar agora. Tudo que eu podia fazer era aceitar o presente e me preparar para o recomeço.
 Ora, quem são essa pessoas?  Pensou o novato - eu. Tão diferentes e de hábitos estranhos; suas gírias me faziam querer morrer de rir. Como sempre, no fundo da sala, tudo era mais divertido e dava pra ter uma visão mais ampla de todos os indivíduos aglomerados naquelas carteiras. Mas a pior parte em ser novato é ter que ouvir os sarcásmos dos professores quando você se comporta mal, ou os apelidos que inventam pra você por não saberem o seu nome - ou simplesmente por não quererem pronunciá-lo.
 Cedo ou tarde, acabei morrendo para que o melhor de mim ganhasse fôlego.


 Vulgo Xurupitah, dentro de seu humilde apelido e sua forte personalidade existiram honras e façanhas que nem todos chegaram a conhecer. O cara da barbicha, o menino que vira touro, o aspirante à dançarino, o promotor de concursos de beleza, ou o mestre amador de RPG. Para além de todos os seus outros pseudónimos, Xurupitah tinha especiais peculiaridades que fugiam de seu controle paranormal; dentre elas, uma paixão única e tão forte que ainda hoje queima em seu coração. Ah, sim, Xurupitah havia se apaixonado por uma bela moça. Mas além deste amor forte e incondícional, existiam também, é claro, aqueles que lhe proporcionavam o prazer de chamá-los melhores amigos do mundo.
 Muitos o seguiam, mas poucos conseguiam acompanhá-lo. Dentre eles, um rapaz furioso que Xurupitah gostava de provocar, ainda que nenhum sangramento ou fratura exposta erradicasse a forte amizade entre os dois fanfarrões. Não muito longe dali, uma dupla de malucos nerds chegaram rapidamente para então formar a equipe que, com todos os seus assuntos e planos físicos, astrofísicos e metafísicos para dominar o mundo, conquistariam a maior das virtudes. Um dos nerds ainda é o garoto mais cretino e maledicto que Xurupitah conheceu em vida, o outro vinha a ser também um exemplo, grande visionário e caçador de fantasias - um amigo especial e inesquecível, pois dele veio a inspiração que mais tarde criaria o TRAPO.
 Acompanhado destes e outros cafagestes, Xurupitah passava seus fins de tarde se empanturrando de pão de queijo e pon chic ao som de inúmeras risadas acerca de assuntos idiotas. E já não importava mais o valor da conta ou se era tarde da noite e sua mãe acharia ruim; estar ali, na companhia dos melhores parceiros que uma pessoa poderia conseguir na vida, era tudo que realmente lhe fazia diferença. Mais tarde, as balelas continuavam incessantes no caminho de volta para casa, assentados na calçada ou em pequenas reuniões. Incansáveis, insuperáveis e insuportáveis - os eternos amigos de Xurupitah Masters.


 Depois de seis meses acordei como se tudo fosse um sonho mal acabado, e quando olhei em volta, meu quarto estava repleto de caixas e mais caixas lotadas de tralha de mudança. Naquela manhã, senti que aquele que fui durante algum tempo havia morrido e passado a existir apenas em algum lugar distante dentro mim - mas ainda existia, estava vivo e eu sabia. Nada fazia muito sentido quando parei e pensei em tudo que havia conquistado e estava deixando para trás outra vez. Eu não queria abandonar tudo de novo, mas dessa vez nada parecia forçado, e meu adeus pareceu sair espontâneamente.
 Sinto falta das ruas, do cheiro do apartamento, das caminhadas na linha do trem e de todos os momentos únicos que marcaram uma vida de mentiras com as mais profundas verdades. Me senti autêntico e vivo no momento que me conformei que, de fato, eu não estava voltando, mas sim seguindo para outro ponto de encontro e para novas aventuras. Sendo agora como este que me tornei, mas nunca como aquele que sou quando estou lá, na terra que amo de onde não nasci. Veio então à minha cabeça assuntos que os mais velhos um dia me disseram, sobre as melhores fases da vida. A sensação era confusa demais e durante algumas horas eu não sabia se sorria, ou se lamentava, por haver descoberto que o antigo segredo é real, que toda vida tem sua melhor fase, e que eu não poderia ter escolhido dia melhor para postar isso.


I'll come back, my friends!

Série Ensino Médio:
 Ensino Médio - 2º Ano (Parte I)
 Ensino Médio - 2º Ano (Parte II)
 Ensino Médio - 3º Ano

2 comentários:

  1. ¬¬ por acaso o rapaz furioso é eu, Sr. Xurupitah?

    KKKKKKKKKKKKK' ainda lembro direitinho da 1ª cv contigo, tava eu e o Breno, até que você chegou falando de algum jogo, dai pra frente, tornamos amigos, hoje bons amigos!

    E o infeliz aê ainda era meu vizinho. Bons tempos aqueles, que a aula acabava 17:25 mais chegávamos em casa só 21:00.

    As discussões sobre dominação mundial e o fim do mundo! Eu, Você, Diego, Raphael ... D+

    Vai ficar pra sempre na memoria.

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  2. Ah maledicto, esqueçeu de nossas cantorias!
    Quem era Lady Gaga perto de nós.!

    Daqui algumas horas espero reviver those momentos!

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