sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Introspecção

 Dias para serem esquecidos. Não foram ruins, mas também não foram aquilo que eu esperava. Talvez eu não esperasse nada de dia nenhum, assim como não tenho esperado nada das duas últimas semanas. Passos vazios, expectativa fria - medo. Medo do que? Não sei, mas sinto. Saudades, discórdia, arrependimento, vontade de chorar. E pra onde devo olhar, se o perigo mora aqui dentro? Pra que fugir de um destino que já foi cumprido várias e várias vezes? Terminando sempre na mesma, sempre assim.
 Eu não estou contando a história de alguém, não estou fantasiando minha mente com coisas doentias; estou sendo nada mais que sincero perante a atmosfera que tenho respirado nos últimos dias. Afastamento e dúvida. Sem saber se devo prosseguir ou desistir, muita coisa perdeu o sentido. Os calafrios têm sido horripilantes, as noites são mal dormidas, a luz da manhã me incomoda profundamente. Durante o dia e à tarde, a cabeça dói e o pescoço pede descanço. Num olhar rápido no espelho vejo o perigo a me vigiar. Nas palavras alheias encontro alguma solução, mas esta é fatal demais para que eu possa decidir, e talvez carregar este incômodo seja menos pesado que a morte de alguém.
 Meu problema é comigo, meu problema é com os outros. Sem dizer nada, eu divido o problema com cada um deles - sem exceções. A extroversão se tornou ridícula, nada mais distrai minhas bobagens, nada do que tenho pensado vale a pena. Nada do que tenho feito contribuirá para alguma coisa, tudo que deixei de fazer ficará abandonado por tempos, até que então eu possa me recompor e voltar a fazê-lo.
 Tenho sentido inveja de gente idiota. Tenho pensado demais em coisas banais que podem apenas acumular mais problemas. Eu não preciso de uma arma, eu só preciso enxergar alguém que esteja na mesma perspectiva árdua e cruel. Eu não preciso de um cabelo novo, não preciso mostrar a ninguém o que se passa por aqui. Mas me expor é opção minha, então foda-se você que não gostou do meu drama.
 Eu tenho tarefas, eu cumpro horários. Eu me atraso mas arranjo uma desculpa, eu decepciono pessoas que sequer conheço. Eu tenho me importado com eles, que nunca pagaram nada por mim. A cova continua descendo, as escadas são como palavras de tortura, nojo e rancor da minha cara. Não sinto meus pés mas eles descem, vejo o caminho abaixo e não me contenho. A bagunça está se formando outra vez.
 Escrevo aqui como se fosse uma ficção, gostaria de jamais parar de escrever para não ter que enfrentar uma realidade sórdida e explicita que nem esta. Minha vontade de chorar permanece muito forte, mas algo aqui dentro impede que as lágrimas saltem daqui. Este é o meu orguho em ação de novo, me segurando para que eu não surte. Segurando o meu medo de surtar, ou o quanto isso possa me custar.
 Sinto saudades da minha terapia psicológica, dos sorrisos que podia dar abertamente com alguém que não conhecia, mas confiava. Não existe diálogo, existe um acordo. Acabou-se meus créditos, acabou-se a minha energia, o sono está chegando brando e devagar. Quero que esta noite seja diferente, não quero mais que tudo fique estranho dessa forma, não quero sentir um medo sinistro ao olhar para a noite entre os muros. Talvez tudo que eu queira seja um longo descanço, para um novo recomeço.

 No mais, no menos... e tudo na mesma.

3 comentários:

  1. Melhor post de todos *-*
    Descreveu como me sinto :D

    -q

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  2. Sem palavras, sinceramente não tenho oq dizer a vc... Gostei do drama.

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  3. Uma realidade apimentada de um drama.

    Ousado e verdadeiro, um sentimento onde o coração chora e o espírito se sente livre ou o contrário.

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