Todos os dias a filha acordava bem cedo, passava alguns minutos cuidando de si mesma e logo depois se dirigia à cozinha para preparar o café da manhã. Já a rotina da mãe permanecia estável. Se levantava preguiçosamente e logo corria para a cozinha para matar sua fome. Enquanto sua filha degustava cada item posto à mesa, a mãe apenas servia-lhe uma xícara de café quente, e colocava-se em frente a uma grandiosa janela de vidro que se estendia poderosamente do chão ao teto.
Uma expressão de nojo e desgosto formava-se no rosto da mãe enquanto observava o prédio menor, em frente a janela. Entre um gole e outro de café, comentava com sua filha sobre a enorme sujeira no prédio vizinho. Quanta imundice! Paredes sujas, muros mal conservados, piscinas em péssimo estado... que horror. Até as pessoas lá embaixo são sujas. Com apenas um resmungo, a filha concordava com cada argumento usado pela mãe, e assim manteve-se durante semanas, enquanto a sujeira no prédio ao lado acumulava-se ainda mais.Certo dia, depois de todos os preparativos matinais, a mãe colocou-se de volta a janela para observar seus vizinhos podres, mas logo lhe bateu aos olhos uma surpresa! O prédio vizinho estava limpo, os muros restaurados, as piscinas brilhavam cristalinas e as pessoas estavam impecáveis em seus trajes casuais. Espantada, a mãe reinvindicou. Mas o que houve com essas pessoas? Elas parecem mais limpas que nós... Sua filha, despreocupada, lhe respondeu. Elas sempre estiveram mais limpas que nós, mãe; eu apenas limpei nossa janela hoje de manhã.
Este texto é uma adaptação de Janela Suja, de Alexandre Fernandes.
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