"Não, eu não irei vender meu PlayStation 2 só porque tenho um Xbox 360 em pleno funcionamento!"
Ainda que tal possibilidade tenha sido cogitada, foi preciso um esbarrão do tempo para perceber a diferença tecnológica e - não menos importante - sentimental entre eles. Parece assunto de nerd, mas responda-me então: quanto custa a cadeira na qual você está sentado? Caso não esteja sentado, quanto vale o esforço de ler este trapo de pé, ou deitado, ou sejá lá como você estiver? Possuimos respostas óbvias e até mesmo bastante precisas para muitas perguntas, enquanto para outras, simplesmente não sabemos o que responder e adotamos nosso peculiar silêncio da ignorância. A mensagem é objetiva, portanto não há muito o que render diante de observações tão simples e ao mesmo tempo tão complexas. Particularmente, me surpreendi quando reconheci o valor que pouca coisa pode ter e o preço de certos valores inestimáveis. Me senti tolo por não haver percebido tais maravilhas muito antes.
A queda livre deste pensamento pousou na minha cabeça nas primeiras aulas de economia (na faculdade) e rasgou uma cortina de muitos conceitos errôneos que vinha sustentando acerca dos gostos e opiniões de pessoas próximas. É claro que muitos dos meus preconceitos não foram (e dificilmente serão) quebrados por esta simples matéria, mas é certo que estou aprendendo a refletir melhor sobre tudo que me cerca e sobre o propósito de cada coisa. Estes novos conceitos de comportamento não estão ligados a divindades ou a outras formas sobrenaturais e metafísicas; este propósito mergulha além das fronteiras do meu e do seu pensamento, e uma vez compreendido, será difícil erradicá-lo.
Desde pirralho sempre sonhei em usar tênis All Star. Por motivos que nunca adentraram muito bem na minha cabeça, eu não podia usar o maldito calçado, e eram tantos os empecilhos que quando finalmente tomei meu primeiro All Star em mãos, não pude acreditar. Parecia surreal, além da sensação tosca de cuidado, como com um item emprestado, como se os tênis fossem fugir do meu domínio. Se algum diabo ousasse estrear meus novíssimos pisantes, então, eu logo partia para a arrogância. A cada manhã e sempre que necessário, era primordial que cada centímetro dos cadarços estivessem bem alinhados e limpos antes de serem calçados ou guardados. Este era eu, insuportávelmente munido de belos tênis All Star. Ontem, porém, olhei para o meu atual modelo surrado e desalinhado e tive uma certa pena dele; remorço acompanhado de nostálgicas lembranças de um dia ter jurado tanta fidelidade a estes tênis. Um pertinente vácuo atravessou meu cérebro até ser preenchido pela minha resposta: ainda que, de fato, exista valor, este agora é bem menor...
Tantas reflexões sobre algo tão simples me fizeram crer, depois de um certo autoperdão, que não vale a pena julgar valores passados, modificar os presentes e nem mesmo premeditar os futuros. Estes valores são tão íntimos que nem mesmo aquele que o detém e afirma sua existência pode calcular sua imensidão. E não importa seu preço, os sacrifícios feitos, as trocas necessárias ou o prazo estipulado; existirá um valor pessoal que estará sempre acima de qualquer um destes pobres itens utilitários.
Dessa forma, o que vale pra mim pode não valer para você, ou este mesmo valor pode simplesmente não ser tão alto, ou tão insignificante ou ainda menos tão equivalente ao que vale para mim. Pode ser ele humano, pessoal ou até mesmo um valor material... quem somos nós para julgar o valor das coisas?
Tão relativo, denso, poderoso e oculto pode vir a ser; chegando despercebido através de simples realizações ou choques inesperados. Portanto, não meça esforços para obter o que vale sua satisfação; dê e ela o valor merecido e respeite-o quando precisar ir embora, para que outros valores possam entrar.
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