terça-feira, 19 de abril de 2011

Razão Própria

 Mulheres. Dos problemas e soluções, os maiores. E mais uma vez o sentimento desperta, o relacionamento evolui. Mas nada que seja bom demais aos olhos ordinários é perfeitamente aceitável para homens assim: que pensam antes de agir, erram depois pensar, mas ainda assim continuam pensando.
 Ela pedia com os olhos e, com o resto, sabia o que fazer. Não era especial ou emotivo, mas simplesmente carnal. Levado por instinto, percebi que sentimentos existiam, - não por mim ou por qualquer outro - estranhamente embaralhados e confusos demais para qualquer conclusão. Aqueles olhos continuavam a secar. Mesmo sabendo que seria inútil tentar adiar, adiei; e odiei ficar sem tocá-la da forma como ela queria. Naturalmente, a vontade explodiu e não me importava mais o dia ou a hora, mas o momento.
 Recebeu, durante três rápidas semanas, o tipo de tratamento e atenção que nunca mereceu. Estável, a rotina permaneceu. Lamentáveis surpresas invadiam cada noite com ares cada vez mais grotescos. Pensamentos tortuosos roubaram meu sono sem necessidade alguma. Vontades súbitas e idéias razoávelmente aceitáveis subiram à cabeça diante de tantos devaneios. Insatisfeito, ali eu estava: domado por uma força estúpida e sendo duramente cruel comigo mesmo. Por vezes me encontrei julgando friamente cada ato de imprudência que cometi desde o primeiro beijo que concedi à ela.
 Curtir, apenas. Foi uma das minhas idéias tolas e sem propósito algum. Não consigo se não há decência, mentiras possuem limites diante dos fatos e dos meus princípios. Por medo de ser enganado, assim como a ajudei a enganar, não confiei. E como não confiava nela, passei a desconfiar de mim.
 Minha carne seguia a favor das promesas enquanto meus pensamentos trabalhavam para eliminar rastros de um fútil sentimento que começava a surgir. De um lado apenas, era muito excitante. Por outros diversos ângulos tomava dimensões tão avessas quanto as minhas ações precipitadas. Nem mesmo minhas tóxicas alérgias me mantinham longe do que eu mais queria. Confuso, passei a duvidar da obra e dividir os elementos em partes da minha própria conveniência. Não havia mais algo por ela, mas pelo que ela poderia me oferecer. Neguei e tentei anular esse pensamento milhares de vezes, tentando unir as peças de novo, mas era inútil. Uma visão tornou-se várias e agora sim a bola de neve estava formada, rolando abaixo e alimentando o impacto, preparada para estourar na minha cabeça caso a máscara dela caísse.
 Talvez fosse possível escapar disso, mas um segundo perto dela me fazia perder o forte raciocínio presente quando ela estava longe. Sinais me mostravam um leve desprezo que eu fazia questão de ignorar. Mas retalhos pequenos formaram algo impossível de não notar. Notar que não é recíproco, que está errado, que é inútil, vão, ilusório e que não combina comigo. O bom senso retornou com ela ainda do meu lado. Pude respirar por um momento e reconheer que havia retomado certo controle sobre mim, me senti estúpido quando reencontrei o amor próprio que havia perdido há semanas junto dela.
 Todos os cálculos somados a pequenas respostas perfeitas levaram a uma rápida e já esperada conclusão. O dia merecia um descanso depois de toda a filosofia durante o fim de semana. Em mais um encontro noturno e dançante, minha amargura ganhou espaço no momento que me peguei fazendo perguntas cruciais contra os sentimentos dela. O diálogo foi resumido e todas as intenções ficaram claramente postas e parcialmente aceitas. Sem poder negar que estava errada, ela apenas me abraçou e se desculpou por tudo. Enquanto voltávamos a ser amigos, eu acariciava seus cabelos, e um brilho forte ficou estampado em meu rosto. Voltei à minha incomum normalidade, onde a razão permance sólida.

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