domingo, 20 de fevereiro de 2011

Arrependimentos

 Nas horas que você não pensa corretamente, sentindo e sabendo que o impulso está te levando e dominando por completo suas ações, tudo influencia para que você não pense nas consequências. Caso chegue a pensar, sabe que será apenas para manter o foco das ações precipitadas, talvez reconhecendo que independente da reação de qualquer pessoa, você foi guiado por algo maior que você e que as opiniões alheias. O nome disso é instinto - uma honra para os homens que sabem como usá-lo.
 Não é comum. Não em mim. Normalmente me arrependo falsamente para alcançar algo que quero muito. Me parece bastante conveniente e insensível talvez, mas eu não poderia mentir diante da minha momentânea agonia. Você pensa que estou arrependido de algo que fiz, mas eu afirmo: não estou.
 Dizer que existe algo pior e mais corrosivo que o típico arrependimento pode parecer loucura, mas existe. E por mais uma pífia vez eu pensava que nada poderia piorar, quando num relance, minha afirmada maturidade não havia exterminado toda a minha ingenuidade. Assim, formei armas contra mim mesmo.
 Tente manter o foco em coisas feitas por você que seriam facilmente julgadas pela sociedade. Se você as comete e o sigilo se mantém, considere satisfatório; caso o sigilo se quebre, será julgado e talvez punido.
 Agora pense na possibilidade de não ter feito nada do que passou pela sua cabeça. Tudo pelo simples medo de ser julgado e punido, colocando seu orgulho à frente de tudo e acima de suas próprias vontades. Calculando cada passo e agindo de forma fria. Logo você não comete aqueles erros, seu corpo e mente parecem estar treinados e aptos a te obedecer de forma sólida. Por um longo momento você se torna dono de si mesmo e conhecedor de suas trilhas, deixando de lado uma discreta e maldita dor que logo poderá bater à sua porta, te chamando para dançar melancólicamente.

 Depois que tudo passa seu mundo se fecha numa esfera vazia e comprimida. Você reciocinou corretamente, evitou o escândalo, deixou de agir tomando outras formas para outros fins, alcançando o momento em que todos os esforços foram vãos, e que agora será impossível retomar o que se perdeu pela sua incompetencia.
 Existe um nó na garganta e lágrimas que se recusam a desabar. De forma estranha e demasiado complicada, uma força te puxa para baixo, a cada segundo mais fundo e ainda pior, como se você se afogasse na sua própria mente, percebendo então que cada palavra escrita na 2ª pessoa do singular apenas reflete sua vergonha de estar completamente arrependido de tudo que você não fez.

- Sérgio, seu grande idiota - disse ele a si mesmo.

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