Minha vida mudou. Junto à isso uma sensação de que algo fora deixado para trás. Tenho vergonha de admitir e por isso prefiro não olhar, mas sei que ainda está lá. Na verdade, está bem aqui, comigo, mas eu o desprezo, pois não consigo enfrentá-lo, mas quero abraçá-lo e nunca deixá-lo ir. Aonde vim parar?
Os questionamentos não param! E à medida que expectativas crescem, algo continua sumindo. Parte de um eu tão ímpar e profundo que, se perdê-lo, sinto que enlouqueceria, numa frenesi sem cura.
Uma onda de consciência tenta sempre me convencer de que aqueles tempos jamais voltarão. E o que estou pensando? Eu não quero que voltem... e por isso é tão difícil explicar. Cada minuto condena um centimetro morto do meu espaço e me faz perceber o quanto estou sendo invadido. Não fico mais sozinho e, por consequência, não consigo raciocinar corretamente. O tempo de mim, que deveria ser dedicado à mim, se perde em pequenas faltas. São erros que nenhum arrependimento pode empurrar ao esquecimento, mas que me farão crescer, ainda que eu sinta o chão trincando sob os meus pés.
Em poucas semanas, as engrenagens que moviam minha mente começaram a enferrujar, provocando ruídos insuportáveis e apontando toda essa falta de compromisso com tudo que - verdadeiramente - me pertence. Conforme soava desesperada a sinfonia, minha procrastinação permanecia. Discreta aos alheios, inevitável para mim; tão clara e assustadora como a luz que invade cômodos sombrios no frio da manhã.
E então o grito. Como vou curar isso?! Tantas mudanças me tornaram inaderente ao futuro. O simples planejamento tornou-se árduo demais, e a combinação dos fatores destrutivos desta trágica temporada me levaram à quimera profunda, onde me separar do mundo é necessário e quase impossível.
Continuo então adiando cada sonho, e odiando cada momento de insatisfação. Aquela imagem no espelho não está mais tão transparente, as luzes de um iminente sucesso não brilham mais como antes. Tudo se apaga, e o que fica são apenas cinzas de uma imensa vontade não concretizada. Tentar explicar minuciosamente seria errôneo. Só resta manter o ritmo e tentar desviar as setas pelo caminho certo.
Quando éramos crianças, nos cercavam de atenção e presentes, doces e demasiados agrados. O tempo escorreu pelos traços, em nossa constante mudança, trazendo consigo obrigações e resposabilidades. Onde estão nossos amigos e família? Como estão suas vidas? A perda abstrai seu próprio medo até que nenhum deles seja relevante. As pessoas sentem muito na exata proporção em que passamos a não sentir nada. Quanto mais se tem, mais se perde e no fim... teremos apenas a nós mesmos.
We're all dying.
Quanto mais se escreve melhor se torna. Você se tornou um grande escritor amigo, e quero dizer que no meio de tantas sentenças complicadas eu consegui esxtrair seu sentimento. E mais, eu compartilho da sua perda, da nossa "Morte" a todo instânte, a todo instânte de decisão, a todo momento de ação. Espero que nossos futuros tragam coisas úteis e não mais estes dias vagos.
ResponderExcluirAbraços do seu AMIGO, Arthur Fortes.