O céu, na última semana, permaneceu cinza e muito nostálgico, me lembrava do tempo em que adorava sair de casa no arrepiante frio para jogar RPG e me divertir com os amigos. Não só por essa, mas também por outras lembranças que surgiram; e aquelas que não surgiram foram trazidas até mim pessoalmente. Talvez um efeito cego do dia das crianças em mim, ou apenas minha mera impressão de que o mundo ficou pequeno demais e que já não cabem eu e minhas memórias num mesmo espaço.
Maldita nostalgia! Essas recordações de matérias e vidas ligadas à minha - ao tempo em que permanecem desprendidas de mim - estão perdidas no olho de um furacão sublime, que guarda em toda a sua extensão uma complexidade inexplicável de imagens e déjà vus sinistros; sons e aromas que parecem trazer de volta as fortes cinzas de algo distante; e assim vão e voltam, por entre umas e outras que se perderam para sempre, que em vão vieram; enquanto outras volta e meia passam por aqui, só para me fazer recordar.
Descobri que a maioria das coisas mudam drasticamente, e ainda que o tempo se arraste ao longo dos anos, só é possível perceber tal modificação quando ela já está sumindo no horizonte. Não me arrependo de nada que fiz, mas assim como todos, tenho a sensação de que foi pouco e que poderia ter sido melhor.
Enquanto algumas pessoas cresceram, outras diminuiram (em muitos aspectos). Conhecidos de longa data tornaram-se nada mais que rostos familiares dos quais os nomes eu não me lembro; e certa observação veio a ser muito importante, pois me ajudou a perceber aqueles que nunca esqueci.
Quanto à memória, ela funciona bem; ainda que esteja fraca para reconhecer detalhes minuciosos do passado. Logo, quando tais detalhes resolvem bater de novo à porta é que percebe-se o quanto fora deixado para trás. Tudo aquilo que há tempos possuia um valor imensurável, passou a ocupar hoje um canto frio e insignificante das minhas experiências. Muitos tolos pensam na possibilidade de reencontrar - e logo retomar - para tentar reviver; e algumas vezes reconciliar. Entretanto, não interessa qual a repetição, reforço ou retrocesso tentem usar, não se pode recriar o passado, modificar memórias ou enganar a história - é como negar sua própria imagem no espelho; um engano contra si mesmo.
A solução menos dolorosa é aceitar que sentir saudades é saudável, e que talvez seja esta a única garantia de que algo foi bom o suficiente para gravar na memória os melhores momentos. Sua intensidade marca pontos na imensa linha que liga nossas vidas e dão sentido às nossas distintas e, por vezes, semelhantes histórias. Teremos saudades hoje, amanhã e depois, pois é com a alegria destes momentos que se desenha a vida - e ainda que infortúnios apareçam, sempre valerá a pena rir deles no futuro.
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