sábado, 26 de janeiro de 2013

♪♫ Wind

Akeboshi - Wind (Tradução e Vídeo)

Cultive sua fome antes de idealizar.
Motive sua raiva para fazê-los perceber.
Escalando a montanha, sem nunca voltar;
indo mais além, sem nunca cair.

Meus joelhos ainda tremem, como quando tinha doze anos.
Fugindo da sala de aula pela porta dos fundos.
Um homem me xingou duas vezes, mas eu não dei a mínima.
Esperar é um desperdício para pessoas como eu.

Não tente parecer tão sábio.
Não chore por ter razão.
Não se apegue a mentiras ou medos,
pois você irá odiar a si mesmo no fim.

Você diz: "Sonhos são sonhos...
eu não vou bancar a tola novamente."
Você diz: "Pois eu ainda tenho minha alma!"

Relaxe, querida, seu sangue precisa correr mais lentamente.
Invada sua alma e entenda a si mesma antes de se entristecer.
O reflexo do medo projeta sombras do nada...
sombras do nada.

Você continuará cega se ver uma estrada sinuosa,
pois há sempre um caminho reto para o que você vê.

Não tente parecer tão sábio.
Não chore por ter razão.
Não se apegue a mentiras ou medos,
pois você irá odiar a si mesmo no fim.



domingo, 20 de janeiro de 2013

Insuportabilidade


Mais insuportável a cada dia,
fica cada vez mais difícil me obrigar,

me forçar, me induzir,
persuadir, me prender.


Texto originalmente postado por mim,
no facebook.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Austin e as Promessas do Novo Ano

 Apesar de nunca ter sido bom em matemática, Austin gostava de contar. Contava seus passos na rua, os segundos para o sinal de trânsito abrir e fechar, o número de garotas atraentes que por ele passava. Contava dinheiro e trocados. O tempo de introdução de uma música, seu refrão e o intervalo entre aquela e a próxima faixa. Contava o número de vezes que costuma contar numa mesma hora.
 Fim de ano é temporada ideal para contar. Há dias da última contagem do ano, não lhe implicava o quão importante fosse o compromisso ou sua dedicação para qualquer tarefa. O simbolismo tornou-se tradição, e para o ano desgraçado que lhe caiu aos ombros, Austin ansiava em contar este fim. Esperou e, na noite certa, contou. Transbordava de emoção com a sensação ludibriante de dever cumprido. Cada segundo aumentou sua euforia até o cume das explosões. Nos céus e dentro de si, havia mundos em festa.
 Foi preciso alguns dias até que Austin acordasse de sua ressaca físíca e moral e notasse o quão tola fora sua interpretação das boas novas. Entre muitas felicitações, permitiu que sua mente lhe pregasse uma peça maldosa. Por um momento, pensou ele ainda estar na temporada que se foi. Sua consciência o convenceu deste equivoco e lhe obrigou a repetir como um fantoche as mesmas palavras em ordem: "um novo ano irá chegar e tudo será diferente". Ao despertar, Austin desejava como nunca culpar alguém por seus delírios, mas a culpa era exclusivamente sua. Pobre tolo, enganado pela própria sanidade.


 A data no calendário mudou; o mesmo aconteceu para o mês e é claro, para o ano. Atmosfera sufocante. Minutos de trantorno o fizeram entender que sua transição aconteceu de forma rápida demais, mas que a velocidade dessa transformação não lhe trouxe absolutamente nada. Uma lágrima percorreu seu rosto até tomar volume na parte mais extrema de seu queixo e finalmente desabar na realidade. O que foram feitas das promessas de Austin? Onde estão suas perspectivas e esperanças, todo o plano que traçou durante horas, por dias a fio, sem pensar em outra coisa? Valeu a pena guardar o melhor de si para tão pouco? Nada era tão humilhante.
 Uma das convicções que assimilou durante suas aventuras era a aceitação daquilo que não pode ser mudado. Se o tempo resolveu brincar de mestre e usá-lo como um dado lançado à sorte, que seja essa sua verdade e agora, acima de todas as adversidades, sua arma contra a tristeza e a mola que o impulsionará até o ponto em que caiu. Mais uma vez, Austin decidiu superar sua frustração e persistir.


 Duas auroras se passaram até que sua paz reaparecesse, pequena e frágil. Lhe faltava uma peculiar integridade. Seu corpo não o respondia de acordo com sua vontade; entretanto, sua mente reorganizou depressa as principais idéias. O mundo não há de acabar, não mais! Logo, campos claros de pureza, quase todos limpos das sombras que confundiam seu raciocínio repousavam no silêncio de seu sono.
 Depois de vários auto-exames, concluiu que tudo contribuiu para uma nova concepção das mudanças no tempo. A primeira lição fora aprendida. Um progresso mais que fenômenal. Decidiu esquecer suas promessas e as dos outros, mesmo sabendo que o ritual se repetiria de novo e de novo. Ignorou a data no calendário e, pouco a pouco, arquitetou uma coragem renovada. Parou de contar compulsivamente e marcar hora para tudo. Jogou limpo consigo e com o resto. Não precisava mais de um álibi, apenas de si mesmo e sua nova mentalidade. Austin renasceu de um engano universal.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Virada, Quatro Dias Depois

 O ano virou. Não sei se durante o espumante ou a tequila, mas aconteceu. Viraram copos, taças e garrafas. Do limão abridor de pernas à melancia tóxica. Salve o maracujá! Virou a cabeça de quem tomou, apagou e pensou que jamais retornaria. Quem viu babaca virar fera, assistiu ao troco bem dado e ao fim da noite virar o fim do ano e de muitas outras coisas destinadas a terminar.
 Para toda ação, reação é estar incrivelmente capaz de chegar ao límite depois do erro e das lágrimas.
É amanhecer em grande estilo. Conseguir estar sozinho. Sentir frio e não sentir nada. Saber que o horizonte trêmulo à frente é tão instável quanto as lufadas. Linhas brancas rasgavam o céu pela manhã.
 O rosto de cada uma daquelas estátuas humanas mal iluminadas representavam uma angústia particular em contraste com as realidades da noite anterior. Medo do nada e nenhuma certeza, talvez. Bocas inquietas para conversas paralelas. Pulamos das risadas saudáveis, regadas à boa comida e bebida leve, para os assuntos degradantes. Aprender o valor do silêncio valeu a pena nesses últimos instantes. Não faria sentido expor contradições e argumentos. Há vontades que se vão em delírios repentinos e reflexões dadas ao longo de minutos curtos. Conclui-se que, para um anfitrião, não é fácil ser versátil.
 Duas caravanas nunca couberam num mesmo espaço. Logo me despeço, agradeço presença e digo que não há por quê se desculpar. Espero que voltem - quando eu convidar. Durante o rodeio forçado, preparo discurso e paciência. Tantos demônios para enfrentar num mesmo dia... Confraternização universal chocando-se contra minha amarga discórdia interna. Por fim, cansaço, febre e insônia.
 A manhã seguinte trazia consigo um sorriso cínico marcando o calendário. Maldição. Dores e demais manifestações cruéis traziam à tona verdades revoltantes. Por que corremos tanto atrás do vento se, mesmo no limite das forças, ele se mantém protegido de nós? Nas mãos ou na mente, a preguiça é o mais comum e saboroso crime. A doença criada à partir de nossa diagnose vira pecado por corpo mole. Se hoje não quero levar à sério, hoje não posso levar a sério. Simples. Não hoje. Cortadas sejam as línguas hipócritas que associam desistência à um caráter fraco. Muito material fora desperdiçado e todos esses falsos moralistas, ainda que estivessem abraçados à foice da morte, também desistiriam de morrer.
 Lembre-se daquele horizonte. Mesmo depois de outra noite perdida pelos mesmos motivos, há ânimo em retomar a vida, ainda que o três incomode - ou o que se perdeu nos últimos dois. Talvez nada; e também não haja ganhos até aqui, a não ser o agravante desses infortúnios. Bom saber que não estamos sozinhos; e o que não faríamos sem aqueles que carregam nossa dor como a sua própria. Parte dessa lógica é famíliar e não falha, pois é essência que sobrepõe o sangue. Entretanto, existem ruas que o acolherão melhor que tua casa, e luas opostas para os teus salvadores. Por fim, nenhum requinte deste vocabulário seria capaz de retribuir um carinho sincero em horas precisas. Quem tem alguém, tem motivo para ser feliz.
 Um passeio final pelo terceiro dia até a chegada mais esperada desde o falso presságio maia. O silêncio, o escuro e a ausência são companheiros indispensáveis àqueles que realmente amam sua vida e seu espaço. Há tempos não estivera reunido comigo mesmo para descarregar certas infelicidades e reconstruir motivação. Não há nada mais puro que o sorriso de um homem solitário. Ele não precisa mostrar aos outros sua satisfação. Está bem consigo. Houve uma saudação alegre até os preparativos do descanso.
 O desconforto fora baleado pela surpreendente ação de alguém que não deixa de amar, mas ama à sua própria maneira. Bom café ao paladar acompanhando mais anagésicos. Dia de reorganizar e aguardar um sinal. Reprimir anseios fúteis e exprimir vontades absurdas. Dormir com uma gata e acordar arranhado. Ficar abobado. Sentir arder e ver a dor como mais doce triunfo de prazer. Sadomasoquismo virou ritmo.